terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Minha primeira reportagem


Destilaria foi erguida na década de 70 e faliu dando lugar ao assentamento Capela.

Olala,
1989. Eu era recém formado em Jornalismo. Guri novo e cheio de vitalidade. Um pouco rebelde estava ligado á política partidária assessorando o então deputado Adão Pretto. Ele tinha uma forte ligação com os movimentos sociais, especialmente o MST que, a época, era ativo e operava ocupações em terras devolutas.

Os assessores do mandato do Adão tinham uma forte inserção no movimento social e se embrenhavam nas lutas do MST na logítisica das ocupações.

Foi num Abril de 1990 que o MST tinha o cadastro de que havia uma área de 2027 ha de terra em poder do Banco do Brasil próximo a Canoas. O MST não dispunha de dados concretos que deveriam ser buscados em algum lugar.

Fui chamado para a tarefa estreiando na minha primeira incursão investigativa. Eu e o então assessor do MST, Antonio Cioccari. Eu de repórter e ele de cinegrafista marcamos uma entrevista com o proprietário da área, Sr. Garcia. Dissemos que éramos de uma equipe da TV Bandeirantes de São Paulo que queria conhecer as circunstâncias da falência do empreendimento.

O Sr. Garcia nos recebeu com uma churrasqueada no galpão crioulo especialmente erguido ao lado da também sede da fazenda que havia falido. Entre um vinho e outro fomos colhendo e gravando informações preciosas sobre o investimento.

Descobrimos, por exemplo, que o Sr. Garcia era aposentado do BB e tinha tido o aval do governo militar para construir no local uma usina de álcool que seria adicionado à gasolina na refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas. Numa época de crise do petróleo, o governo militar jorrava dinheiro para projetos alternativos de energia.
Foi assim que em 1975 foi erguido o maior complexo de produção de álcool do Sul do país em Canoas. E o Sr. Garcia falava com desenvoltura sobre as benesses de Delfim Netto no apoio ao empreendimento.

Gravamos o Sr. Garcia dizer que depois de erguido o prédio com três andares, moendas, grandes tanques, depósitos, alojamentos de funcionários, represa para resfriamento das máquinas, tubulações, caminhões, máquinas... foi obrigado a pedir falência simplesmente porque o Ministério da Agricultura não havia se preocupado com o suprimento da usina, plantando cana. Ou seja, o empreendimento faliu porque não tinha matéria prima para alimentá-lo. Contou o Sr. Garcia que toda a cana disponível nos arredores da usina durou um mês e meio para ser consumida.

Restou a falência e a intervenção do Banco do Brasil. Com a área em posse do Governo Federal e tendo este a tarefa de fazer a reforma agrária, o MST passou a cobiçar a área para futuro assentamento.

Conhecendo da geografia para chegar ao local, ainda tive, junto com o companheiro Joacir Picolotto, a tarefa de orientar os ônibus com acampados até a área para a primeira ocupação da terra que foi garantiu, em 1993, o Assentamento da Fazenda Capela abrigando 90 famílias, entre as quais a do atual deputado estadual Marcon.

Isso que é um pé na luta e outro no parlamento.
Pense nisto, enquanto há tempo.
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