Relíquia importada revelava status e poder. |
Olala,
Nos anos áureos da colonização italiana no Rio Grande do Sul, alguns bens de consumo eram vistos como símbolo de status. Num tempo em que as pessoas só dominavam ferramentas rudes para desbravar a mata, quem conseguisse comprar uma máquina, somava tecnologia e orgulho.
Neste cenário, um instrumento muito cobiçado era o relógio suíço. Alguns imigrantes - homens - ostentavam um relógio de bolso que guardavam em casa ou utilizavam nas festas pendurado a uma corrente sempre visível sobre o paletó. Era uma joia tentando revelar o desejo de opulência ou, quem sabe, o "riccordo" de uma terra distante que ficou para trás.
Mas havia uma marca de relógios de parede chamada Ansonia, produzidos na Pensilvânia, EUA, que também atiçavam as mentes dos membros de famílias italianas do final do século XIX. Ter um relógio desta marca em casa era sinal de poder. Quase todas as casas tinham um.
Mas, por que os relógios instigavam os "gringos"? Talvez pela necessidade de medir o tempo. Um tempo que deveria ser desafiador a cada dia, a cada hora e minuto.
Lembro do tique-e-taque constante a martelar minha mente no silencio da madrugada ou a badalar o quarto, a meia e a hora cheia operadas pelo prodigioso relógio.
O relógio de parede acionado diariamente através de uma chave que ativava uma espiral perdeu espaço com o advento do relógio digital, movido a pilha. Menos sonoro, mas igualmente pontual, o relógio marca diabo "Made in China" desbancou o centenário Ansonia que hoje ilustra silencioso a parede onde hibernou por anos. Osa tempos mudam e os instrumentos e joias acompanham este aggiornamento. Pense nisto enquanto há tempo.
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