segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Ansonia

Relíquia importada revelava status e poder.

Olala,
Nos anos áureos da colonização italiana no Rio Grande do Sul, alguns bens de consumo eram vistos como símbolo de status. Num tempo em que as pessoas só dominavam ferramentas rudes para desbravar a mata, quem conseguisse comprar uma máquina, somava tecnologia e orgulho.

Neste cenário, um instrumento muito cobiçado era o relógio suíço. Alguns imigrantes - homens - ostentavam um relógio de bolso que guardavam em casa ou utilizavam nas festas pendurado a uma corrente sempre visível sobre o paletó. Era uma joia tentando revelar o desejo de opulência ou, quem sabe, o "riccordo" de uma terra distante que ficou para trás.

Mas havia uma marca de relógios de parede chamada Ansonia, produzidos na Pensilvânia, EUA, que também atiçavam as mentes dos membros de famílias italianas do final do século XIX. Ter um relógio desta marca em casa era sinal de poder. Quase todas as casas tinham um.

Mas, por que os relógios instigavam os "gringos"? Talvez pela necessidade de medir o tempo. Um tempo que deveria ser desafiador a cada dia, a cada hora e minuto.

Lembro do tique-e-taque constante a martelar minha mente no silencio da madrugada ou a badalar o quarto, a meia e a hora cheia operadas pelo prodigioso relógio.

O relógio de parede acionado diariamente através de uma chave que ativava uma espiral perdeu espaço com o advento do relógio digital, movido a pilha. Menos sonoro, mas igualmente pontual,  o relógio marca diabo "Made in China" desbancou o centenário Ansonia  que hoje ilustra silencioso a parede onde hibernou por anos. Osa tempos mudam e os instrumentos e joias acompanham este aggiornamento. Pense nisto enquanto há tempo.
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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Engavetamento político

Desejo do eleitor determina reeleição.

Olala,
Meus quase trinta anos de militância política me ajudaram a ver os perfis da ação pública de parlamentares e gestores públicos. Nos parlamentos a construção política se dá a partir das ações de mandato e nos governos, municipal, estadual e federal se dá a partir das ações da gestão.

Como militante petista, tenho avaliado a caminhada política feita por diversos companheiros e companheiras que, em algum tempo desta história, foram guindados à representação de mandatos parlamentares.

A representação política para ser continuada depende de algumas variáveis. Uma delas refere-se à identidade de sentimento com o eleitor. O político tem que identificar o que rola na cabeça de cada eleitor e, se sua plataforma de ações dialoga com este sentimento, ele tem mais chance de seguir no parlamento.

Tenho percebido que muitos mandatos acabam sendo engavetados em ações burocratizadas. Um político que fixa sua ação apenas na institucionalidade, em tarefas administrativas e não dá produz ações que estejam assentadas no desejo do eleitor, tende a enfraquecer o mandato.

Do ponto de vista eleitoral e, tendo presente que um político sempre precisa, de tempo em tempos, passar pelo aval do eleitor, como estabelece a democracia brasileira, é sempre importante que todo o político saiba dosar qual o tempo utiliza para atividades burocráticas e de rua. Ou seja, precisa, mais do que nunca, ter um pé na luta e outro no parlamento. E, ter projetos que dialoguem com o sentimento da população.
Pense nisto, enquanto há tempo!
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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Servidores ativos e inativos no RS



IBGE mostra 1,6 servidor por 100 habitantes no Brasil.
Olala,
Quantos são os servidores ativos e inativos no RS?
O Portal da Transparência enumera que é servidor ativo ou inativo. Você pode verificar por exemplo o nome data de ingresso e cargo de todos os atuais burocratas do Estado. Pelos dados do portal em maio de 2015 existem 148.347 matrículas ativas que incluem servidores que possuem contratos temporários com o poder Executivo no Estado. Há servidores que possuem duas matrículas. Os inativos somam 146.229 matrículas considerando que um servidor pode ter duas matrículas.

No Portal há também uma tabela com as remunerações iniciais e finais inerentes a cada cargo.  Pelos dados observa-se que o cargo melhor remunerado no Executivo é o de auditor, fiscal de tributos estaduais e defensor público cujo valor inicial é de R$ 19.122,61 e valor final de R$ 30.471,11. O valor é superior ao do governador que é de R$ 25.322,25 e o de vice-governador e de secretário de Estado que é de R$ 18.991,69 em valores finais.

Qual é o custo desta máquina?
As tabelas do Portal também apontam que o Estado gastou em 1.7.2015, R$ 573.010.197,00 com o pagamento de servidores ativos e R$ 630.916.198,00 com servidores inativos. Conforme dados do IBGE  o RS possui 11.259.166 habitantes e 372.011 servidores ativos e inativos.

Os servidores vinculados à Secretaria da Educação representam 67,68% dos servidores e a Brigada Militar 15,39% dos servidores, mas respondem respectivamente por 45,32%  e 21,64%  dos gastos com folha. A Secretaria da Fazenda que responde por 1,28% dos vínculos, consome 6,31% da folha.

Estes dados revelam a necessidade de pensar o Estado a partir dos investimentos no servidor. Um estado forte se constrói com a valorização do servidor, estímulo às carreiras e prestação de serviço qualificado. O governador, ao eleger o excesso de servidores como motivo para o fracasso do Estado, atesta que está agravando a crise.
Pense nisto, enquanto há tempo!
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Sartori e a crise


Servidores protestam em frente ao
Palácio pelo atraso de salário.
Olala,
Tenho acompanhado os movimentos políticos do governador Sartori que, desde que foi eleito tem feito a pregação da falência do Estado.

Não tenho dúvida que a tática utilizada pelo governador foi a de disseminar pelo Estado um clima de terra arrasada para que a população que o colocou no Piratini possa aceitar um cheque me branco para operar mudanças profundas na estrutura do Estado.

Uma vez consolidada a situação de crise, fica mais fácil para o governante sensibilizar os deputados da base aliada e a população de que fica mais fácil se desfazer de patrimônio público, arrochar salários, subir impostos e extinguir leis que garantem benefícios aos servidores.

Atualmente o governo corre solto nesta direção. Os salários já estão sendo pagos com atraso e, não se surpreendam se logo ali não virá a proposta de não pagar nada ao final do mês.

Já opinei anteriormente que o Estado do Rio Grande do Sul judicializou sua relação com os servidores. Isto é, jogou para os precatórios o crédito devido aos servidores pelo não pagamento de salários, ações trabalhistas, dívidas decorrentes de vantagens ou direitos não pagos e buscados na Justiça pelos servidores.

Não interessa ao servidor jogar para as calendas gregas um crédito que deveria ser pago imediatamente. Hoje, cada servidor tem créditos na forma de precatórios ou RPVs que não sabe quando vai receber. É a dívida interna do Estado.

Paralelo a esta situação, não vejo mobilização dos servidores e da sociedade que possa contestar esta prática abusiva que conspira contra o serviço público.
Pense nisto, enquanto há tempo!
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terça-feira, 4 de agosto de 2015

A dívida pública


Estado deve e servidor não recebe. Cadê a justiça?
Olala,
Cresci ouvindo meus avós e pais falando mal do governo. Filho de descendentes de italianos, demorei a entender porque a lamúria tomava conta dos meus genitores.

Lendo a história do processo colonizatório, percebi que os imigrantes foram maltratados pelo governo provincial. Deserdados e considerados como estranhos no Brasil, foram jogados em terras dobradas de mata áspera da região serrana onde tinham que provar a sobrevivência. Não se pense que receberam as terras de graça como é hoje. Na época, o antigo Incra que se chamava Inspetoria de Terras do governo provincial tinha a tarefa de demarcar sumariamente os lotes que eram vendidos aos colonos. E, em prazos definidos, de até 25 anos, todos acabaram pagando pela terra. Imaginem as promissórias devidas ao Governo nos primeiros anos de colonização. Cada um se via acuado longe da sua pátria, tendo que provar que sabia honrar o compromisso e pagar a dívida.

Para quem não acredita, é só ir até o Memorial do RS e consultar o Livro Tombo que registra os valores pagos por cada colono assentado nas linhas da Serra.

Hoje, os tempos são diferentes. Um gringo da Serra está no Governo e quem está dando o calote é o Governo. Ao aprovar lei que isenta o Estado do pagamento de dívidas com os servidores, o Governo desonra sua relação com os cidadãos. Perde o crédito. Fico pensando o que aconteceria se o devedor fosse o cidadão.

Quando o Estado não dá o exemplo, e não paga o que deve, estamos diante de um dilema: ou a lei é injusta e precisa ser mudada ou o Estado é gerenciado na ilegalidade.
Pense nisto, enquanto há tempo.
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