domingo, 4 de outubro de 2009
Gracias a la vida, Mercedes Sosa
Mercedes Sosa contribuiu com outros artistas a contestar as ditaduras do continente latinoamericano.
Olala,
Minha identidade latino-americana, com certeza, foi estimulada pela música. Ainda criança, no interior do Estado, quando o rádio apenas começava a existir, ouvia, à noite, as interferências de rádios argentinas e uruguaias invadindo a frequência das emissoras brasileiras. Nelas, os grandes sons do Plata de Gardel, Piazzola e da grande e extraordinária Mercedes Sosa. Como criança, descobri que minha aldeia embora fosse o centro do mundo, estava rodeada de outras aldeias próximas e distantes.
Cresci admirando o som de Mercedes Sosa, que acaba de nos deixar.
Seu legado musical, especialmente para os que lutam por democracia no continente foi exemplar. Seu peculiar timbre de contralto era inconfundível e suas palavras sempre se alinharam entre aqueles indispensáveis defensores das ideologia de rechaço aos governos imperialistas, ao consumismo e à desigualdade social. A música sobreviviendo de sua autoria e interpretada por vários autores é exemplar.
Às letras de sua música são um tributo a todos os amantes da liberdade e da solidariedade. Na "Gracias à la vida" cantou o sofrimento do povo chileno retratado numa letra da também grande Violeta Parra. Juntou-se a artistas brasileiros como Milton Nascimento, Beth Carvalho, Caetano, Chico Buarque, entre outros para contestar a ditadura e pedir democracia. Sua mensagem musical percorreu o mundo e serviu de estímulo às mentes e a multidões.
Sua voz carregou sempre uma profunda mensagem de compromisso social através da música folclórica, sem prejuízos para a expressão musical. Seu talento indiscutível, sua honestidade e suas profundas convicções deixam uma enorme herança para as gerações futuras. Admirada e respeitada em todo o mundo, Mercedes se constituiu como um símbolo do acervo cultural mundial que fica para sempre.
Aos 74 anos, esta argentina de Tucumán, acaba de falecer nesta madrugada. La Negra como era conhecida, por seus cabelos longos e escuros, Mercedes deixa a marca dos cantores e interpretes engajados socialmente.
Mas, os cantores também são pessoas e a natureza humana diz que também partem. Mercedes Sosa é uma partida que deixa saudades.
Pense nisto, enquanto há tempo.
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2 comentários:
Oie! Somacal!! Concordo plenamente, a Mercedes é imortal...na minha lembrança...bjos Núbia
Mercedes Sosa honrou a vida. A morte não a encontrou solitária, sem ter feito o que queria. Não foi indiferente à dor, à injustiça, à guerra nem mentira. Nascida na Argentina, tornou-se cidadã da América Latina e do mundo. Militante comunista, foi obrigada a deixar seu paÃs na década de 70, por uma das tantas ditaduras militares que infestaram nosso continente. Como costumava dizer, trazia o povo em sua voz.
Mercedes Sosa honrou a vida e a luta pela verdade. E a vida, como ela cantou, não é permanecer nem perdurar. Merecer a vida não é calar nem consentir com tantas injustiças repetidas. Honrar a vida é uma virtude, é dignidade, é a atitude de identidade mais definida. Merecer a vida é colocar-se de pé, para além do mal e das quedas. É dar boas vindas, sempre à verdade e à liberdade. A voz de Mercedes Sosa denunciou as maneiras de não ser, as consciências adormecidas e as vidas não vividas.
Merdedes Sosa honrou a vida e cantou seu povo. Cantou a unidade latinoamericana. Trazia a pele da América em sua pele. Carregava em seu coração todas as vozes, todas as mãos, todos os irmãos. Generosa e altiva, saiu a caminhar pelo sul e sua voz acabou ganhando o mundo. “Eu não escolhi cantar para as pessoas. A vida me escolheu para cantar, disse em uma recente entrevista para a TV argentina. Ela agradeceu a vida e honrou essa escolha. Foi seu compromisso de toda a vida. E neste momento em que ela se despede do solo em que pisou, sua voz se espalha pelo vento e envolve o povo que ela tanto amava. La Negra viveu o que cantou e cantou o que viveu. Aceitou alegremente a escolha feita pela vida e entregou sua voz a ela. Engrandeceu e alargou a humanidade. (M. Weissheimer)
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