quarta-feira, 20 de abril de 2016

Violência corporal


Olala,
Lembro de ter encontrado, circulando pelas ruas de Edimburgo, na Escócia, uma senhora brasileira toda espetada com piercings. Chamou-me atenção da mulher e, como ostentava as cores e símbolo da bandeira do Brasil, tomei a liberdade de indaga-la sobre o sentido de tamanha decoração. Ela me disse que é maranhense, migrou jovem para a Inglaterra e encontrou na decoração do corpo a maneira de ser percebida pela sociedade rica do velho mundo.

A mulher vive de trocados dados pelos milhares de turistas que visitam pontos históricos da Escócia. Contou, orgulhosa, que é a mulher que mais piercings tem entre os habitantes do Reino Unido.

É claro que cada indivíduo decide que história traça para sua vida, mas, convenhamos, é radical a decisão de alguém utilizar o martírio corporal como meio de inserção social. Não que a liberdade não dê esta condição, mas seria menos traumático ter que pendurar metais em abundância para ser percebido.

Agora, recentemente, outro brasileiro, Rodrigo Alves, resolve transformar seu corpo e deixá-lo, através de múltiplas cirurgias, ao personagem Kin, parceiro da boneca Barbie. O jovem, filho de pais abastados, resolve viajar ao mundo e pagar mais de R$ 300 mil a cirurgiões plásticos para alterar partes do corpo visando aproximá-lo do boneco de plástico que faz a fantasia das crianças.

De tantas cirurgias, o corpo do jovem resolveu recusar o nariz, onde a cartilagem de um nariz novo acabou não gerando liga. E o sonho do jovem de ficar angelicalmente parecido com o roso da Barbie, poderá ficar maculado para sempre.

Acho interessante que um profissional da estética aceite os argumentos do jovem Rodrigo e crave o bisturi decepando partes do corpo. O trabalho médico só se explica do ponto de vista comercial, pois no processo ético, não faz sentido.

Durante a história a estética sempre foi perseguida pelo ser humano. E, ao mesmo tempo, em que serviu para trazer felicidade, tem sido objeto de dor para muitas pessoas que não entendem bem qual o sentido de uma vida.
Pense nisto, enquanto há tempo!
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segunda-feira, 18 de abril de 2016

Paramentarismo de fato


Olala,
A leitura do resultado colhido pela Câmara dos Deputados que aprovou o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma, é reveladora de uma realidade cada vez mais constante no país: a de que vivemos um sistema cada vez mais parlamentarista.

No passado o Brasil até fez um plebiscito se queria mudar de sistema de governo, mas a decisão apontou que a maioria queria o sistema (ou regime) presidencialista.

Nas atribuições institucionais há a autonomia dos poderes. Esta autonomia dá ao Legislativo a prerrogativa de decidir sobre o fim dos governos executivos. Nossa recente democracia a partir do voto já operou este poder no afastamento do presidente Fernando Collor e agora está na iminência de afastar também a presidente Dilma.

Quem olha de fora não entende muito bem este poder da Câmara que pode abreviar um mandato construído com legitimidade. Vivemos, portanto, um parlamentarismo de fato, embora na lei prevaleça o presidencialismo. Esta forma peculiar de governo é reveladora de nossa imaturidade democrática onde a soberania do voto majoritariamente dado ao chefe do poder passa a ser confiscado pelo colegiado parlamentar. Vejo abrir-se um grave precedente jurídico que atenta contra a soberania do voto. Quando um poder abrevia pela via biônica um mandato legitimamente constituído, sinaliza-se que o país não respeito as regras eleitorais legalmente constituídas.

Chama atenção, o motivo pelo qual os deputados avançaram na destituição de Dilma. A utilização de recursos não previstos no orçamento aprovado no Congresso e buscados em bancos públicos para o fechamento do balanço fiscal são as razões para pedir impeachment. Prevaleceu o voto dos que entenderam que a presidente agiu na ilegalidade ao buscar verbas dos bancos públicos e 0privados para manter o financiamento de programas sociais como Minha Casa, Minha Vida, Prouni, Bolsa Família entre outros.

Se o Brasil vivesse um regime parlamentarista, decisões como a de ontem, seriam normais como ocorre noutros países que tem primeiro ministro que balança toda a vez que perde base de sustentação no parlamento. Confesso que a decisão é um tanto confusa para na política brasileira. Pense nisto, enquanto há tempo.
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terça-feira, 12 de abril de 2016

Placar do Impeachment


Olala,
Tem desafios que todo o político tem que enfrentar. Um deles, levantado pelos defensores do Impeachment é o de garantir quórum que permita levar a presidenta Dilma ao afastamento do cargo, até ser julgada por comissão processante no Senado.

Para o leigo, uma análise simples do resultado da votação na Comissão do Impeachment instalada na Câmara poderia antecipar um resultado favorável ao afastamento da presidente. Mas, o escore, 38 deputados a favor e 27 contra esconde uma enganosa projeção do resultado quando for tomado no plenário da Câmara.

Primeiro porque no processo de escolha dos membros da Comissão de Impeachment foram os deputados mais críticos do afastamento da presidente. Comparando, é como se fossemos fazer um FLAFLU e escolher onze atletas para enfrentar a equipe adversária. Logo, os que forem escalados serão os mais rebeldes e convictos do time. Assim foi a escolha dos membros da comissão e, ainda assim, o resultado não foi elástico.

Olhando o placar do Impeachment, e considerando o total dos 513 deputados em exercício na Câmara dos Deputados e, considerando as decisões já tomadas pelos partidos em voto fechado, é possível estimar o resultado final a ser tomado pelo plenário no próximo domingo.

Partidos que já decidiram votar a favor: 211 votos. São eles: PSDB 51 votos, PSB 31 votos, PTB 20 votos, DEM 28 votos, PRB 22 votos, SD-14,PSC 9 votos, PPS 9 votos, PV 7 votos, PHS 7 votos, PTN 13 votos e PMB 1voto.

Partidos que decidiram votar contra: 179 votos. São eles: PT 57 votos, PSD 36 votos, PR 40 votos, PDT 20 votos, PCdoB 11 votos, PSol 6 votos, PEN 2 votos, PTdoB 3 votos e Rede 4 votos.

Partidos em que houve a liberação do voto: 123 votos. São eles: PMDB 67 votos, PP 47 votos, PROS 6 votos, PSL 2 votos e 1 deputado sem partido.

Para o impeachment ser aprovado na Câmara são necessários 342 votos ou dois terços dos 513 votos do colegiado.

Se somarmos todos os deputados das bancadas que decidiram votar a favor, mais todos os deputados dos partidos com voto liberado, teremos 334 votos. Portanto, revela-se o tamanho do desafio que têm os partidos que querem consolidar o impeachment da presidente Dilma. É a análise.
Pense nisto, enquanto há tempo.
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quarta-feira, 6 de abril de 2016

PMDB


Olala,
PMDB quem te viu, quem te vê. Recorro a uma famosa cena da ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi entoada por vários tenores como Luciano Pavarotti, Enrico Caruso e outros La donna è mobile, para situar melhor o papel desempenhado pelo PMDB ao longo do último cinquentenário.

Que me perdoem as mulheres que amo muito, mas este sentimento se aplica ao comportamento político do PMDB, partido murista que nasceu como contraponto à ditadura mas que, ao longo do tempo, foi corroído pela ânsia de poder. Um partido que sempre foi governista seja qual for o governo da União. Imagine-se o papel dos peemedebistas acomodados no governo Sarney, PDS, depois no governo Collor, PRN, depois no governo de FHC, PSDB, depois no governo Lula e Dilma, do PT. Sempre em posição subalterna, o PMDB cruzou cinco décadas aninhado ao governo tendo a totalidade dos ministros no governo Itamar e depois se mantendo presente com ministros e cargos na estrutura de governo de todos os governos subsequentes.

A oscilação, a inconstância, a dúvida e a incerteza marcam as atuais posições do partido que integrou a chapa com o vice presidente no governo Dilma Rousseff. Como uma criança marrenta, a sigla decide jogar para a torcida sinalizando uma retirada do governo justamente no momento em eu a crise apresenta sua face mais aguda. Deixando de ser parceiro, o PMDB tomou a decisão dividido e, como é próprio do partido, a decisão não será assumida por todos no partido. Quem cinquentenriamente cultivou relações interesseiras, duvidosas, ambíguas, terá dificuldade de fazer passar na opinião pública uma posição uníssona, unitária e fechada.

Como um caniço agitado ao vento, o PMDB ao decidir abandonar o barco, salta na água mas mantém o cordão preso aos barco. Quem pretendia chegar à margem segura poderá encontrar pela frente águas turvas e turbulência, podendo perder ainda mais parceiros de travessia.
Pense nisto, enquanto há tempo.
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