domingo, 27 de junho de 2010
Ângelo e a realidade
Sempre há esperança e aprendizagem enquanto há vida, ensina Paulo Freire.
Olala,
Tenho um amigo que sofreu um acidente de moto em 1978. Chama-se Ângelo. Bateu a cabeça e ficou vegetativo até um mês atrás. Algo surpreendente. De repente, não sei de onde, passou a recuperar a memória. E, espantosamente, veio à tona com a lucidez de antes do acidente.
O Ângelo recobrou o sentido e a inteligência que podia ser dado como morto há mais de três décadas. Sua família acreditou nele e, por acreditar, continua vivo.
Agora para ele tudo é surpresa. Ele tem que se acostumar com a realidade mudada. Em 1978 quando tudo aconteceu não tinha celular, não tinha, internet, iPhone, GPS, MP3,...
Não tinha computador. Em 78 o top era fazer um curso de datilografia e saber dominar o teclado de uma Olivetti ou uma Remington. Eu mesmo cheguei a digitar polígrafos para um professor universitário na base da matriz perfurada com as batidas da máquina de escrever. E muita gente que é doutor por aí se formou reproduzindo documentos na base do mimeógrafo movido a álcool.
A era digital não existia. Digital era a impressão que a gente gravava em um cartão de papel quando ia fazer o documento de identidade. Esta, aliás, por incrível que pareça, ainda continua viva.
Três décadas após, o carro tem comando eletrônico, é flex, tem GPS, o telefone é sem fio, há o celular com múltiplas funções e a comunicação liga pessoas que se ouvem e vê, on line, instantanemente de um canto a outro do mundo.
Vendo tudo isto, meu amigo Ângelo, nome que vem do latim, Angelus, e significa anjo, se sente tão antigo e velho que vive o desafio de aprender as coisas perdidas no passado. Ainda bem que existiu Paulo Freire que ensinou: "a gente aprende a vida toda".
Pense nisto, enquanto há tempo!
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