quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Carta de um professor


Recebi uma mensagem da professora Claudete Scherer, de Carazinho, reproduzindo artigo que recebeu do professor José Celmar Roir da Silva, avaliando a educação atual no RS. Eis o texto:
"Quando os gaúchos elegeram o atual governo, votaram num projeto de políticas de resultados que se apresentava como sendo um novo jeito de governar. Resultados na economia, está aí o propalado déficit zero, com um custo social altíssimo.

Quero falar de uma área que eu conheço mais, por ser professor no Estado há 23 anos, para não parecer que estou inventando ou que estou falando pelos outros, em áreas como segurança e saúde, nas quais o descaso e a irresponsabilidade deste governo são também muito grandes.

O que está acontecendo nas escolas públicas estaduais atualmente é um processo de desmoralização, de desmotivação, de cinismo e de crueldade jamais visto. Nesses 23 anos, só teve algo parecido com o quadro de pessoal por escola (QPE), do governo Simon, ou o calendário rotativo, do governo Collares. Mas o que estamos assistindo hoje é muito mais cruel e desanimador do que esses episódios passados. Nós estamos há dois anos sofrendo um dos maiores arrochos salariais dos últimos tempos. Com o agravante de termos turmas com cada vez mais alunos, com bibliotecas fechadas, com laboratórios fechados, por falta de profissionais.

Ainda tenho que ouvir opiniões de profissionais da imprensa, formadores de opinião, defendendo essas e outras medidas deste governo, dizendo que já trabalharam com turmas de 60, 80 e cem alunos e que isso não tem problema nenhum, que os professores reclamam de barriga cheia. Qual o profissional que elabora e corrige avaliações fora do seu horário de trabalho? Imagina ter que corrigir 300 ou 400 avaliações, porque nós somos obrigados a ter 10, 15 ou 20 turmas para ter um mínimo para sobreviver e ainda dar uma atenção maior para os alunos com mais dificuldades, com turmas de 40 ou 50 alunos! No meu caso, a maioria adolescentes, que estão cada vez mais terríveis! Este governo se diz moderno, então por que não institui o um terço de preparação de aulas, por que não adota o cartão-ponto e paga as horas extras das reuniões, dos conselhos de classe, das entregas de boletins?

A política educacional do atual governo é também de resultados. Como se a escola fosse uma empresa qualquer. Tanto é, que realizou o corte de salários dos professores grevistas como se eles não tivessem que recuperar as aulas perdidas. Então, o ano letivo não precisa de 200 dias para ser validado? Para completar a crueldade, agora quer implementar a tal da meritocracia, com a premiação aos professores que tiverem o melhor desempenho. Quem vai avaliar? O que é ter melhor desempenho? Será aprovar todo mundo? E os professores aposentados como ficam? E ainda quer destruir o nosso plano de carreira, que os governos Collares e Brito já tinham desativado. O governo Olívio reativou nosso plano, realizando concurso e retomando as promoções. A única promoção que eu tive foi no governo Olívio.

Penso que a maioria dos eleitores, incluindo aí grande parte dos professores, que escolheram este governo, não tinha a real noção de em que projeto estavam votando. Mas os empresários da mídia têm a obrigação moral de informar o que realmente está acontecendo. Qual é realmente a proposta deste governo e qual o custo social dessas políticas? Os prós e os contras."
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